domingo, 4 de setembro de 2011

O Homem do Futuro | crítica

Novo filme de Torres chegou de mansinho e agradou a todos.Poucas coisas na história da humanidade são tão desejadas quanto a viajem no tempo. No cinema, nos quadrinhos, na literatura, nos games... Em tudo que é porra de lugar que se olhe esse tema sempre esteve presente. Pensando nisso você também não acha estranho o cinema nacional nunca ter apostado em nada desse tipo? O Homem do Futuro (idem, 2011) chega para acabar com esse tabu e de quebra é assinado por Cláudio Torres (Mulher Invisível, ano), um diretor com algum talento para cuidar de roteiros malucos.

Curiosamente a minha última crítica foi sobre um filme em condições parecidas; Assalto ao Banco Central foi a primeira adaptação nacional de um subgênero muito batido no cinema gringo e que se estrepou exatamente por não conseguir dar nem uma pontinha sequer de originalidade a sua história, caindo em um monte de clichês de filme americano e minando pouco a pouco o que deveria ser um dos melhores filmes do ano. Automaticamente vinha a minha cabeça: será que esse tal Homem do Futuro vai convencer? Afinal, querendo ou não, mesmo cheio de clichês e atuações ridículas, Assalto ao Banco Central entregou ao público tudo o que o povão queria ver – o problema é que ficções científicas não estão exatamente entre as preferências desse tal povão. O panorama não era dos melhores, mas confesso que acreditava no poder de condução de Torres e no trabalho competente do Capitão Nascimento para salvar a obra – na verdade eu achava que as curvas da Aline Moraes também poderiam fazer isso...

O Sr. é um fanfarrão Sr. Zero.

Moura, agora muito mais parecido com o Beackman (aquele da série de Tv “O mundo do Beackman”) do que com o oficial machão do B.O.P.E. dá vida a Zero, um nerd atolemado e tirado a gênio que conseguiu (sabe Deus como), inventar uma espécie de máquina do tempo que ninguém sabe exatamente como funciona – mas quem se importa com essas besteiras né? E é durante um teste que o cara vai parar numa noite de 1991, uma noite que ficou em sua mente graças a uma puta trairagem que sofreu de uma colega de universidade por quem era arriado os quatro pneus. Agora, agarrando a nova chance, Beackman, digo, Zero decide se encontrar com ele mesmo para tentar se convencer a não ir até o palco com Helena (Aline Moraes, metade mulher, metade Deusa Grega) onde iria ocorrer em breve a miséria que marcou sua vida.

Não é mais um besteirol sobre viagem no tempo.

É impossível assistir O Homem do Futuro e não fazer um link imediato com filmes como Efeito Borboleta (The Butterfly effect, 2004) ou a clássica trilogia de De Volta Para o Futuro (Back to Future, ano). Nesses filmes o que vemos é uma série de oportunidades que qualquer homem daria um ovo para ter: as de poder alterar alguma bosta no seu passado. Mas como o velho clichê de filmes de viagem no tempo reza: qualquer porra que se faça lá no passado sempre gera uma merda do caralho no futuro – no caso do Zero, mesmo voltando e fazendo tudo o que achava que tinha que fazer para ter um grande futuro, não conseguiu evitar que sua vidinha se tornasse ainda mais escrota do que já era, tendo que voltar a viajar na engenhoca novamente para remendar o novo estrago que tinha feito. Típico.

E para que tudo isso fosse possível seria necessário um protagonista capaz de passar todas as nerdices do personagem – a dancinha do Perna Longa é batida mas não tem como não rir. Aliás por falar na dancinha do coelho mais esculhambado da história, Moura conseguiu reunir num único personagem a linguagem corporal do Mr. Bean, as caretas do Jim Carrey e a cara do Beackman, claro. Aline Moraes é até boa atriz, embora seja quase impossível algum marmanjo prestar atenção na atuação da garota – principalmente quando ela aparece em trajes colados (ou sem eles).

Mas o grande mérito do filme sem dúvidas foi a ausência de expectativas – ao contrário por exemplo de Assalto ao Banco Central que estreou com muito alarde. Com isso o filme consegue surpreender muito com atuações bacanas e piadas engraçadas. Os efeitos especiais que são tão necessários a produções desse tipo, aqui quase passam sem ser notadas, mas aparecem de forma muito artificial quando entram em cena, mostrando que o cinema nacional ainda precisa melhorar muito nessa área.

Ninguém é perfeito e o filme do Torres cai em diversas pegadinhas (notaram que o Zero em cinco minutos, além de aceitar o fato de que em sua frente há alguém que viajou no tempo para encontrá-lo, decorou todo o resto da sua vida?) mas é equalizado demais para se tornar mais um filme de Sessão da Tarde. Tem conteúdo e carisma para ser revisto e vale o investimento de algumas cédulas de Real para ser assistido num cinema qualquer – desde que você esteja disposto a ver algo, descompromissado, divertido e acima de tudo diferente o suficiente para não se tornar apenas mais um.

2 comentários:

  1. Eu ainda não assisti o filme. Mas vou fazer assim que tiver oportunidade. Um grande abraço.

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  2. Achei divertidíssimo o filme! E a cena em que a Helena e o Zero estão cantando no palco é ótima!!
    É o cinema brasileiro mostrando que também sabe ser pop ;D

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