Nunca um cover fez tanto sucesso
Sempre que surge uma nova adaptação nas telonas todos estremecem – afinal todos sabemos que a maioria delas serve apenas para nos lembrar o quanto que os cineastas atuais são medíocres (com muitas excessões, é verdade. Ainda bem).
O seriado Agente 86 (Get smart, 1960) foi criado no auge da guerra fria por Mel Brooks e tinha como objetivo satirizar os filmes de espionagem (apesar de não existir muitas opções do gênero naquela época além de 007).
Mesmo tendo nascido duas décadas depois aprendi a gostar do atrapalhado agente e da forma como resolvia seus “problemas” – uma mistura de MacGyver com Houdini?
A cultuada série da época era recheada com todos os clichês que nos fazem rir mesmo nos filmes mais sérios, técnicos e sofisticados… Prato cheio pra quaquer diretor de comédia contemporâneo. Ainda assim quase meio século depois ninguém imaginava (eu acho) que algo tão datado ainda poderia fazer algum tipo de sucesso no mercado atual, mas Steve Carrell interpretando o agente secreto mais atrapalhado de todos os tempos nos provou o contrário; a sua versão de Maxwell Stuart – interpretado por Don Addams na série original – não podia ser apenas uma cópia da atuação de Don (o agente da série original se utilizava dos recursos de 50 anos atras e obviamente não despertaria nenhum tipo de interesse nos dias atuais) e aí que começamos a notar o grande trunfo do filme: Carrell.
Steve Carrell cria um novo agente 86 com expressões (ou a ausência delas) próprias e mais que isso; uma personalidade própria… Muitas vezes lembrado apenas como “o cara que imita Jim Carrey” (por se utilizar das caretas e de um humor mais rasgado, ácido diria) Carrell aqui mostra seu “cinto de utilidades” cheio de opções e prova que não precisa de mais que um movimento de sombrancelhas para nos fazer rir; e muito – a cena da zarabatana lembra os engraçadíssimos Top gang - ases muito loucos (top gang, 1991) com Charlie Sheen, bons tempos.
Imito sim, e daí?
O filme conta a história de um analista da organização secreta C.O.N.T.R.O.L.E. Maxwell Smart, (Carrell) que sonha se tornar um agente de campo mesmo após inúmeras reprovações nos testes para a função. Quando a sede da agência de espionagem americana é atacada e a identidade de seus agentes fica exposta o Chefe não tem outra saída a não ser promover Maxwell Smart, que sempre sonhou trabalhar em campo ao lado do alto, bonito, elegante, “inteligente”, famoso, musculoso, simpático e até boa gente Agente 23 (the rock).
Maxwell smart recebe então sua mais perigosa e importante (além de ser a primeira, claro) missão: impedir que a organização criminosa secreta conhecida como K.A.O.S. coloque em prática seu mais novo plano para dominar o mundo – no melhor estilo Pink e Cérebro.
Smart, no entanto, é forçado a trabalhar com a única agente cuja identidade não foi revelada: a veterana Agente 99 (Anne Hathaway). À medida que 86 e 99 vão desvendando o emaranhado de intenções malignas da K.A.O.S. - e um ao outro - eles descobrem que um dos principais artífices da organização, Siegfried, e seu ajudante Shtarker planejam lucrar com ameaças de colocar em ação sua rede de terror - com isso só faltou mesmo um Martini, uma bela mulher morta em uma cama após uma noite de sexo, um Aston Martin destruído e uma apresentação do tipo: “meu nome é Bond”… Pronto; teríamos um roteiro perfeito para outro personagem do gênero.
Apesar da pouca (muito pouca) experiência e do reduzido (muito reduzido) tempo de que dispõe, Smart arma-se com suas geringonças tecnológicas típicas de espionagem, dos clichês indispensáveis (seguranças que sempre estão de costas para as câmeras de circuito interno, passagens secretas nos locais mais improváveis, perseguições que desafiam as leis da física, mini-engenhocas com multifunções, invasões solo em locais que nem meia dúzia de superman conseguiriam entrar, além de uma trama baseada em fatos estapafúrdios e improváveis que findam sempre numa solução harmônica e fluente - digna de um felizes para sempre dos conhecidos contosinfantis) e de seu entusiasmo inabalável para derrotar a K.A.O.S. e se estabelecer de fato como um agente de campo.
As referências aos filmes do espião inglês 007 não param por aí e vão desde a detruição dos carros (nem sempre de luxo) passando por uma clara referência a 007 – contra o foguete da morte (007 – moonraker, 1979), as cantadas de mal gosto como a da cena do avião em que Smart diz a sua mais nova parceira: “temos algo em comum afinal, não gostamos do que vemos no espelho: você fez plástica e eu emagreci”; até o desfecho quando escuta-se (não tão discretamente) um trecho da famosa trilha sonora criada por Monty Norman para o personagem do escritor britânico Ian Fleming.
O Diretor Peter Segal (Como Se Fosse a Primeira Vez e Tratamento de Choque) acerta ao imitar/conservar muitas das idéias da série. O clássico sapato-fone ganha uma pontinha; o engraçadíssimo e ineficiente “cone de silêncio” - sempre utilizado quando Max e o Chefe conversavam algo secreto, no seriado original; as mãos falsas, úteis quando Max era algemado, entre outras. Ao lado deles, os colegas da Agência.
Antes mal acompanhado que só.
A parceira 99, talvez o único ser da agencia C.O.N.T.R.O.L.E. capaz de compreender as idéias mirabolantes de Max é bem retratada pela atriz Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada e O Segredo de Brokeback Mountain), assim como o paternal e paciente Chefe, agora vivido pelo ator Alan Arkin. Fazendo uma pontinha, Bill Murray aparece como o Agente 13, - personagem que sempre surgia nos locais mais improváveis no seriado - hilário. Mas há ainda “The Rock” vivendo o Agente 23 e a dupla de gênios Bruce (Masi Oka) e Lloyd (Nate Torrence).
Também estão lá, Terence Stamp na pele de Siegfried, o temido chefe da K.A.O.S. e seu braço direito, Shtarker, interpretado pelo competente Ken Davitian, completam o time.
86…
Agente 86 conta a história de como Maxwell Smart tornou-se um agente.
As piadas são inteligentes e completam o contexo, o roteiro enxuto e as sequências de ação dinâmicas. Para os novatos que nunca assistiram ao seriado, o roteiro explica os motivos que levaram a C.O.N.T.R.O.L.E. a promover seu analista de sistema a um agente secreto; para os veteranos acima dos 50 uma divertida sensação de deja-vù e o sentimento de que logo logo veremos uma continuação do tipo: 86 – os diamantes que não brilham ou 86 – golden ass.
Aguardaremos ansiosos.
Agente 86 - Ficha técnica
- Título original: Get Smart
- País: EUA
- Ano: 2008
- Duração: 110 min.
- Gênero: Comédia
- Direção: Peter Segal
- Roteiro: Tom J. Astle e Matt Ember
- Elenco: Steve Carell, Anne Hathaway, Dwayne "The Rock" Johnson, Alan Arkin, Terence Stamp, Masi Oka, Dalip Singh, Bill Murray
- Avaliação: 7,0
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