Novo filme de Torres chegou de mansinho e agradou a todos.
Poucas coisas na história da humanidade são tão desejadas quanto a viajem no tempo. No cinema, nos quadrinhos, na literatura, nos games... Em tudo que é porra de lugar que se olhe esse tema sempre esteve presente. Pensando nisso você também não acha estranho o cinema nacional nunca ter apostado em nada desse tipo?
O Homem do Futuro (idem, 2011) chega para acabar com esse tabu e de quebra é assinado por
Cláudio Torres (
Mulher Invisível, ano), um diretor com algum talento para cuidar de roteiros malucos.
Curiosamente a minha última crítica foi sobre um filme em condições parecidas;
Assalto ao Banco Central foi a primeira adaptação nacional de um subgênero muito batido no cinema gringo e que se estrepou exatamente por não conseguir dar nem uma pontinha sequer de originalidade a sua história, caindo em um monte de clichês de filme americano e minando pouco a pouco o que deveria ser um dos melhores filmes do ano. Automaticamente vinha a minha cabeça: será que esse tal
Homem do Futuro vai convencer? Afinal, querendo ou não, mesmo cheio de clichês e atuações ridículas,
Assalto ao Banco Central entregou ao público tudo o que o povão queria ver – o problema é que ficções científicas não estão exatamente entre as preferências desse tal povão. O panorama não era dos melhores, mas confesso que acreditava no poder de condução de
Torres e no trabalho competente do
Capitão Nascimento para salvar a obra – na verdade eu achava que as curvas da
Aline Moraes também poderiam fazer isso...
O Sr. é um fanfarrão Sr. Zero.
Moura, agora muito mais parecido com o
Beackman (aquele da série de Tv “
O mundo do Beackman”) do que com o oficial machão do
B.O.P.E. dá vida a
Zero, um nerd atolemado e tirado a gênio que conseguiu (sabe Deus como), inventar uma espécie de máquina do tempo que ninguém sabe exatamente como funciona – mas quem se importa com essas besteiras né? E é durante um teste que o cara vai parar numa noite de 1991, uma noite que ficou em sua mente graças a uma puta trairagem que sofreu de uma colega de universidade por quem era arriado os quatro pneus. Agora, agarrando a nova chance,
Beackman, digo,
Zero decide se encontrar com ele mesmo para tentar se convencer a não ir até o palco com
Helena (
Aline Moraes, metade mulher, metade
Deusa Grega) onde iria ocorrer em breve a miséria que marcou sua vida.
Não é mais um besteirol sobre viagem no tempo.
É impossível assistir
O Homem do Futuro e não fazer um link imediato com filmes como
Efeito Borboleta (
The Butterfly effect, 2004) ou a clássica trilogia de
De Volta Para o Futuro (
Back to Future, ano). Nesses filmes o que vemos é uma série de oportunidades que qualquer homem daria um ovo para ter: as de poder alterar alguma bosta no seu passado. Mas como o velho clichê de filmes de viagem no tempo reza: qualquer porra que se faça lá no passado sempre gera uma merda do caralho no futuro – no caso do
Zero, mesmo voltando e fazendo tudo o que achava que tinha que fazer para ter um grande futuro, não conseguiu evitar que sua vidinha se tornasse ainda mais escrota do que já era, tendo que voltar a viajar na engenhoca novamente para remendar o novo estrago que tinha feito. Típico.
E para que tudo isso fosse possível seria necessário um protagonista capaz de passar todas as nerdices do personagem – a dancinha do
Perna Longa é batida mas não tem como não rir. Aliás por falar na dancinha do coelho mais esculhambado da história,
Moura conseguiu reunir num único personagem a linguagem corporal do
Mr. Bean, as caretas do
Jim Carrey e a cara do
Beackman, claro.
Aline Moraes é até boa atriz, embora seja quase impossível algum marmanjo prestar atenção na atuação da garota – principalmente quando ela aparece em trajes colados (ou sem eles).
Mas o grande mérito do filme sem dúvidas foi a ausência de expectativas – ao contrário por exemplo de
Assalto ao Banco Central que estreou com muito alarde. Com isso o filme consegue surpreender muito com atuações bacanas e piadas engraçadas. Os efeitos especiais que são tão necessários a produções desse tipo, aqui quase passam sem ser notadas, mas aparecem de forma muito artificial quando entram em cena, mostrando que o cinema nacional ainda precisa melhorar muito nessa área.
Ninguém é perfeito e o filme do
Torres cai em diversas pegadinhas (notaram que o
Zero em cinco minutos, além de aceitar o fato de que em sua frente há alguém que viajou no tempo para encontrá-lo, decorou todo o resto da sua vida?) mas é equalizado demais para se tornar mais um filme de
Sessão da Tarde. Tem conteúdo e carisma para ser revisto e vale o investimento de algumas cédulas de
Real para ser assistido num cinema qualquer – desde que você esteja disposto a ver algo, descompromissado, divertido e acima de tudo diferente o suficiente para não se tornar apenas mais um.