Por Cristian Bonatto.
Só quem estava lá para saber. Nunca foi visto tamanho cenário de desolação como este que presenciou o Velho Casarão nos seus domínios na quarta-feira, por aproximadamente uma hora, entre os 15’’ do primeiro e os 11’’ do segundo. Uns choravam sentados em meio a uma multidão em pé, fazendo das arquibancadas o meio-fio das suas desilusões, outros riam de nervosos, alguns cantavam como em uma espécie de mantra que evocaria a imortalidade tricolor, mas a maioria estava quieta, atônita, imóvel, muda. O quadro da dor, como bem definiu o Minwer, teve como ápice o momento em que Jonas perdeu o pênalti, ali muitos deixaram o estádio. Não queriam ver o Grêmio levando a goleada histórica que a lógica desenhava.
Pois é. A lógica. Esta heresia que insistimos em cometer ao Grêmio, mas que volta e meia é destruída sob nossos olhos pela exclusiva imortalidade que nos acompanha e na maior parte do tempo esquecemos. Mas ela está ali, não surge sempre que é evocada, como na final da Libertadores 2007, prefere se manifestar quando a maioria acha que ela era apenas uma jogada de marketing que aproveitando a Batalha dos Aflitos. A imortalidade age como um terremoto em regiões geotectônicas, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer e vai abalar as mais sólidas estruturas da lógica.
Que o Silas errou ao começar o jogo com três zagueiros e depois se corrigiu; Que o Victor estava abalado pela punhalada do Anão, Que o Douglas esqueceu o futebol no vestiário e só achou no intervalo ou que Rodrigo Mancha foi a mais infeliz idéia do Dorival Júnior são explicações tão óbvias e convenientes como vazias. Nenhum time que tenha levado 2×0 mais um chocolate no primeiro tempo volta para o segundo e faz 4×1 com explicação possível de qualquer comentarista. O Grêmio transformou o Santástico na Portuguesa Santista e duvido que Silas tenha usado qualquer retórica técnica no vestiário para isto.
Se a imortalidade tricolor vai se manifestar na Vila Belmiro quarta-feira, como sabemos, não dá para prever. Hora de esquecer que ela existe. Se o Grêmio se ajudar ela pode aparecer. O que resta a Silas é montar um Grêmio que se defenda atacando, dar condições para a arma Jonas/Borges e na defesa muito sangue nos olhos de Mário Fernandes e Ozéia, já que Rodrigo, o Ceifador não estará na batalha. Vai ser um jogo 90% decidido por camisa. Enquanto técnicos de outras equipes usam filmes como O Gladiador para motivar seus jogadores basta Silas mostrar o Grêmio ao seu próprio Grêmio. “Esquecendo” a imortalidade.
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