por Renata Domingues
Em 1983, Humberto Gessinger ainda não havia lançado o primeiro disco dos Engenheiros do Hawaii. "Longe demais das capitais" foi para as lojas três anos depois. O líder da banda era, portanto, um desconhecido do grande público quando estava na arquibancada lotada do Olímpico, em Porto Alegre, no dia 28 de julho. Bem próximo de sua cidade e de uma grande paixão. Nesse dia, o seu Grêmio derrotou o Peñarol por 2 a 1 e se tornou campeão da América. O músico gaúcho se esbaldou na comemoração. Festejou tanto, mas tanto, que ficou sem dinheiro. Um pouco embriagado, teve de caminhar por quase duas horas até chegar em casa. Sozinho, enfrentou o inverno do Sul no longo percurso. No fim daquela "Infinita Highway", a paixão de infância pelo Tricolor ficou mais intensa e sólida. E tornou aquele momento bastante especial.
Cantor, compositor e até arquiteto - deixou a faculdade a três semestres do fim - Humberto Gessinger é, antes de tudo, gremista. E para os torcedores do Grêmio hoje com mais de 40 anos, o segundo jogo da final da Libertadores de 1983 foi épico por ter culminado na conquista da então maior glória da história do clube. Jogo tão inesquecível que o músico incluiu a narração do fim da partida feita por uma rádio local no meio da canção de sua autoria “Anoiteceu em Porto Alegre”. No videoclipe, aparecem imagens de jornais da época destacando o feito tricolor.
Além do músico, mais de 73 mil pessoas foram ao Olímpico e viram Caio abrir o placar após bola cruzada na área com apenas dez minutos de bola rolando. Aos 25 do segundo tempo, porém, o craque uruguaio Morena empatou. Mas, aos 31, a festa começaria. César aproveitou cruzamento da direita e marcou o que seria o gol do título do Tricolor, então comandado pelo gaúcho Valdir Espinosa, levando a torcida - e Gessinger - à loucura
Em 1983, Humberto Gessinger ainda não havia lançado o primeiro disco dos Engenheiros do Hawaii. "Longe demais das capitais" foi para as lojas três anos depois. O líder da banda era, portanto, um desconhecido do grande público quando estava na arquibancada lotada do Olímpico, em Porto Alegre, no dia 28 de julho. Bem próximo de sua cidade e de uma grande paixão. Nesse dia, o seu Grêmio derrotou o Peñarol por 2 a 1 e se tornou campeão da América. O músico gaúcho se esbaldou na comemoração. Festejou tanto, mas tanto, que ficou sem dinheiro. Um pouco embriagado, teve de caminhar por quase duas horas até chegar em casa. Sozinho, enfrentou o inverno do Sul no longo percurso. No fim daquela "Infinita Highway", a paixão de infância pelo Tricolor ficou mais intensa e sólida. E tornou aquele momento bastante especial.
"Estava muito frio. Assisti ao jogo tomando quentão, bebida alcoólica tradicional aqui, e fiquei um pouco embriagado. Acabei ficando sem dinheiro para pagar o ônibus e saí caminhando por cerca de 1h40m, superfeliz, em um frio do cão. Na rua, uma pessoa jogou um balde d’água fria na minha cabeça, devia ser um colorado. Fiquei todo molhado... Se andasse rápido, o frio ficava pior. Se andasse devagar, demoraria mais para chegar em casa. Mas cheguei. Depois daquele jogo foi como se todos nós (gremistas) tivéssemos passado por um rito de passagem e nos tornado torcedores melhores. Lavei a alma" - contou, aos risos.
Cantor, compositor e até arquiteto - deixou a faculdade a três semestres do fim - Humberto Gessinger é, antes de tudo, gremista. E para os torcedores do Grêmio hoje com mais de 40 anos, o segundo jogo da final da Libertadores de 1983 foi épico por ter culminado na conquista da então maior glória da história do clube. Jogo tão inesquecível que o músico incluiu a narração do fim da partida feita por uma rádio local no meio da canção de sua autoria “Anoiteceu em Porto Alegre”. No videoclipe, aparecem imagens de jornais da época destacando o feito tricolor.
"Minhas músicas são mais introspectivas, por isso nunca fiz nada direto para o Grêmio, mas já citei o clube em muitas letras - explicou Humberto, que atualmente toca na banda Pouca Vogal enquanto os Engenheiros do Hawaii, que viveram o auge do sucesso nas décadas de 80 e 90, dão uma pausa".
Além do músico, mais de 73 mil pessoas foram ao Olímpico e viram Caio abrir o placar após bola cruzada na área com apenas dez minutos de bola rolando. Aos 25 do segundo tempo, porém, o craque uruguaio Morena empatou. Mas, aos 31, a festa começaria. César aproveitou cruzamento da direita e marcou o que seria o gol do título do Tricolor, então comandado pelo gaúcho Valdir Espinosa, levando a torcida - e Gessinger - à loucura
"Foi um jogo que começou antes do início e terminou muito depois do fim em uma Libertadores aguerrida. O Grêmio já havia passado por batalha contra o Estudiantes, na Argentina (3 a 3 em La Plata). Não tinha nem exame antidoping naquela época. Antes, o Mazaropi pegou um pênalti que garantiu a vitória sobre o América de Cáli (2 a 1). Eram os bons tempos da Libertadores. Só dois times de cada país podiam participar. E esse jogo simboliza isso. Além de ter sido contra o Peñarol, que era um supertime" - relembrou Gessinger.
A batalha de um torcedor aflito
Anos mais tarde, o Grêmio já era campeão mundial (1983), havia vencido outra Libertadores da América, em 1995, era bicampeão brasileiro e tetra da Copa do Brasil. Mas, depois de tantas glórias, amargou a Série B do Brasileirão, em 2005, e teve de lutar muito para conseguir retornar à elite. Já um cantor famoso, Gessinger teve de assistir ao jogo que ficou conhecido como a Batalha dos Aflitos pela televisão, em um hotel no interior de São Paulo. Mas não teve coragem de acompanhar tudo até o final.
O Grêmio precisava apenas de um empate com o Náutico, em Recife. Mas o que parecia fácil ganhou ares dramáticos. No segundo tempo, já com um jogador a menos, o árbitro marcou pênalti para o Timbu - o segundo do jogo - e iniciou uma confusão generalizada que durou cerca de 25 minutos (veja o vídeo acima). Como consequência, mais três gremistas foram expulsos. Mas o que parecia impossível aconteceu. Galatto defendeu a cobrança, e, na sequência, mesmo com sete em campo, Anderson marcou um gol e deu o título para o Tricolor do gaúcho Mano Menezes. Gessinger não viu nada disso...
"Estava viajando. Assisti a todo o campeonato, mas, quando rolou o segundo pênalti do Náutico, larguei de mão e desci para passar o som. Encontrei o meu baterista e foi ele quem me falou que o Grêmio havia conseguido. Sofri o ano inteiro, e, na hora do melhor, não tive coragem de ver" - lamentou.
No Rio de Janeiro, músico vive ‘affair’ com o Botafogo
Gaúcho típico, com sotaque carregado, Humberto Gessinger morou no Rio de Janeiro por muitos anos por causa da música. Na Cidade Maravilhosa, não deixou o futebol de lado. Mas como diz a sabedoria popular, não há amor que resista a longas distâncias. Assim, longe do Imortal, ele chegou a flertar com uma equipe alvinegra, o Botafogo. O cantor se sensibilizou com a história daquele time que em 1989 pôs fim a um jejum de títulos que durava nada mais nada menos do que 21 anos. Liderado pelo capitão Mauro Galvão - gaúcho como Gessinger -, o time da Estrela Solitária derrotou o Flamengo por 1 a 0, gol inesquecível de Maurício.
"Morei no Rio entre 1988 e 1997 e peguei uma pequena paixão pelo Botafogo. O clube saiu da fila de 21 anos sem títulos, com um time que tinha alguns gaúchos. Poderia ter torcido pelo Fluminense, tricolor como o Grêmio, mas acabei escolhendo o Botafogo pela história" - admitiu.
O Rio de Janeiro também contribuiu para que o músico perdesse um pouco da aflorada rivalidade entre gremistas e colorados, comum para um estado como o Rio Grande do Sul, que divide a paixão dos torcedores entre dois clubes grandes:
"Não sou xiita, não. No tempo em que morei no Rio, o pessoal pegava no meu pé perdesse o Grêmio ou perdesse o Inter. Então, fui perdendo o anticoloradismo. Um dia, meu porteiro tocou flauta porque o Figueirense tinha perdido. Eu falei que o Figueirense é de Santa Catarina e ele disse que não interessava, pois, para ele, eram todos gaúchos (risos).
Confiança no trabalho do ídolo Renato Gaúcho à frente do Tricolor
De volta a Porto Alegre e passado o ‘affair’ pelo Glorioso, Gessinger, que já havia se tornado um “torcedor de sofá” - como ele mesmo confessa -, voltou a frequentar a arquibancada do Estádio Olímpico incentivado pela filha Clara, de 18 anos. Além do apelo familiar, o time comandado pelo ídolo Renato Gaúcho contribuiu para o retorno do músico à vida de torcedor de carteirinha.
"Este ano ela começou a ir mais aos jogos. Foi ela quem me levou de volta ao estádio. Eu estava um torcedor de sofá. E esse Brasileirão foi aguerrido também. A vida do gremista é tudo, menos um tédio" - comentou.
Neste Campeonato Brasileiro, o Grêmio figurou na zona de rebaixamento durante grande parte da competição e iniciou uma recuperação arrebatadora desde a chegada de Renato Gaúcho, há cerca de dois meses. Hoje, o time aparece na oitava colocação e, com 43 pontos, está a seis da zona de classificação para a Libertadores de 2011, o atual G-3. Apesar de restarem apenas nove rodadas para o fim do Brasileirão, Humberto acredita que verá o Tricolor gaúcho novamente na mais importante competição continental no ano que vem, e com um dos ícones da história gremista no comando.
"Sonhar é a profissão do gremista. Foi muito bacana que a recuperação tenha se dado com um cara como ele, parece coisa de filme. Ele chegou e deu conta do recado. Como treinador ele não tem uma característica muito gaúcha, porque é mais ofensivo. O time dele joga igual dentro e fora de casa. Não perdemos o ídolo e ganhamos o técnico. Renato foi corajoso, porque a coisa estava braba. Não era só futebol, era astral. Às vezes isso é mais difícil de ser corrigido. Acho que torcedor não tem que fazer conta, tem de acreditar" - declarou.
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