quinta-feira, 4 de novembro de 2010

MV Bill, Causa e Efeito - crítica

Novo álbum do rapper é um mix de filosofia do gueto e putaria sofisticada.

Por Willian Rof

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Mal a cantoria começa e na faixa O Bonde Não Para, MV Bill já anuncia: “Ocupar vários espaços é o nosso plano de paz” – e o cara é determinado, tenha medo... Tudo bem que o novo trabalho do moreno é bem “mais do mesmo” – típico manifesto de rappers negões que tentam ostensivamente causar revolução social e unir a periferia ao “mundo externo”; mas vamos combinar o cara manda bem mesmo, e o negão mais correria do Rap brazuca não é daqueles que fica só de conversinha; MV Bill cria e executa ações na famosa Cidade de Deus, já teve participação especial em três livros e faz um verdadeiro “corre” para divulgar as suas idéias.

O cara que ja tinha levantado a bandagem e mostrado a carne podre que existia ali por baixo, mostrou em Causa e Efeito uma virtude a mais – algo do tipo, compre 1 e leve 2; não que seja uma novidade pois esse ja era o foco desde o último DVD do mano - aliás, rimas violentas precisam mesmo de um certo requinte nos arranjos para serem notadas por um número maior de pessoas, ponto pro Bill. Este foi o caso também de Falcão – o bagulho é doido (acho que foi o álbum com maior repercussão do músico) que já misturava geral os ritmos e tentava falar o maior número de “idiomas” possível.

Meu nome é Bill


É importante que se diga, que a incorporação de outros gêneros musicais não mudou o peso das letras nem a forma como são abordadas – a língua mais afiada da música brasileira ainda é dele, como podemos perceber na faixa Mulheres as perolas: “Cada mãe sabe a dor que sente, quando vê o filho sendo queimado como indigente”, ou “ausência do amor com a presença do dinheiro, faz a mãe levar a filha junto pro puteiro".

Na música Liberte-se, uma pequena surpresa: um pedacinho de Fumando Espero, na voz de Dalva de Oliveira; adiante, o Bill mete suas rimas como de costume... A batidinha gostosa é um aquecimento para a próxima faixa que é uma cacetada na mente dos seus parceiros de rap: Transformação tem participação especial de Chuck D (Public Enemy); é um som que chega de sola com uns toquezinhos lentos, meio deprê e recheada de crítica aos manos: “Ficaram parados no tempo, envaidecidos dividiram o movimento. Veja só o rap, virou o partido da cara feia, com grandes bonés, pequenas idéias, falso reinado, coroa de rei, castelo de areia”.

Causa e Efeito é forte e profundo. Não tira o pé pra ninguém e narra o cotidiano do morro como todo bom rap, mas não se esquece do que está se passando “do outro lado do muro”. Não importa se você curte Punk, Heavy, Gospel, axé ou Techno; MV Bill definitivamente descobriu a fórmula exata do som das multidões, aquele que te faz balançar e refletir ao mesmo tempo – talvez seja a tal batida perfeita que o D2 tanto procura... é um conjunto de esporros e agradecimentos no melhor estilo “entre tapas e beijos”, criticando violentamente tudo o que não faz bem a sua comunidade ou não lhe agrada quando quer dar os tapas; com relação aos "beijos", estamos falando de um álbum de rap e aqui ninguém agradece nada exatamente com beijos. Ora Mano...

2 comentários:

  1. "O BONDE NÃO PARA, O BONDE NÃO PARA, SÓ QUEM TÁ FORMADO NO BONDE QUE BOTA A CARA!" (8)

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  2. Aê Diego, o álbum é o máximo mesmo. MV Bill mandando bem mais uma vez

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